segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

solitário

tarde de concreto 
o inevitável sorriu
no firmamento
Abriu-se um fogo 

amor escarlate
Quebrando as paredes 
Mergulhando nos vidros
Inflamas todos os corações

Tua razão é uma estrela 
corpos giram ao teu redor
te guardaram numa esfera de plasma


Teu coração vermelho
Se estende no branco
Teu coração vermelho
Queima o azul


És mais que a estrela
És mais que uma estrela
Que a estrela das estrelas!

Senhor de fogo
Conheço a tua solidão 
que arde enquanto amas.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Os valores exaltados no Brasil de hoje


Em 2012,  Rafael Nunes da Silva, morador de rua, perdeu o anonimato após ter sua foto publicada no Facebook - ganhando o epiteto de "mendigo gato", por ser considerado bonito, ter olhos azuis, etc. A vida deste rapaz agora é acompanhada pela mídia e pelo público, que parecem muito preocupados com seu bem estar, por ser usuário de crack e estar marginalizado. Para constatar, basta pesquisar seu epiteto num site de busca ou em qualquer destes portais eletrônicos populares. 

Mas por que não vemos esse zelo diário com todos os outros marginalizados do Brasil, ou pelo menos alguns deles? Será que não há mais miseráveis no Brasil, será que eles não existem? Se existissem, sendo o morador de rua um anonimo que fosse "feio", receberia o mesmo cuidado? E se fosse negro, receberia o mesmo cuidado? Mas supondo que fosse negro e ainda "bonito", mesmo assim, seria tão famoso, receberia o mesmo cuidado? 

Havendo racismo ou não no fato, um acontecimento não pode ser contestado, os valores exaltados no Brasil, tem efeitos perversos. Dentre os marginalizados, somente aqueles que são “bonitos” é que existem, pela ótica da mídia que exalta e a sociedade que aplaude, muitas vezes sem perceber. E o que significa ser “bonito” no Brasil atualmente? O que significa existir no Brasil hoje, para esta sociedade?

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

primeira estrela

Mar de estrelas!
E as Glórias da manhã!
Primeira estrela
Tragas teu afã misterioso

Syrius! só tu entendes,
Na tua solidão celeste
Do alto desta torre
A minha solidão

Tu que brilhas sozinha
Do alto do firmamento
Entre flares e ventos
Não podes estar sozinha

Pois que do teu peito emana luz!

...






quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Triunfo (esboço)


Um dia ele virá
E passará triunfante.

Não haverá força que o impeça
Nem as vertebras dos homens
Nem a coluna dos muros errantes

Seu anuncio foi predito

Um dia ele virá

E passará triunfante.


Seu preludio é silencioso
Diz o coração.

Não há razão que suporta
O coração que arrebenta

E em cada noite que Deus sonha
Nasce um tigre

E se sobre seu dorso
senta uma criança

Quem poderia detê-lo?

Um dia ele virá
E passará triunfante.

Um dia ele virá
Virá o amor.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Pira do Ipiranga


Na Pira do Ipiranga
O Fogo da Cidade ardia
Ardia na pedra da pira
e refletia:

Sobre o céu cinzento

A nuvens caminham espessas
Os transeuntes aos milhares.
Alguns passeiam,
Outros correm desesperados
Da escravidão do dever.
Fora aqueles, estes
permanecem quase mortos,
Da inanição do abandono.
Enquanto o Fogo arde na Pira de Pedra
Enquanto a imensa cidade se contaminava de pedra.

Subiam sob os ramos da Razão contaminada

Um material duro e seco
Amparado em vigas
Erguiam as paredes da cidadela morta
E a peste que nascia
Dos muros enormes
Penetrava os corações menores
Petrificados pela solidão,
Guarneciam a vida
[Em inacabáveis quadrículos
De formato indefensável],
Do ar.

Sob a batalha que seguia

Na ordem do dia
Segundo se via na memória
Gravada na Pira
E os olhos de Deus fitando
Os pobres transeuntes, de cima
Lançavam uma onda de luz e calor
E como era de sempre se esperar
O céu chorava
A chuva caia.

E o Fogo da Pira que Ardia apagava suave

E agora  todos voltam pra casa,
O Sol, os homens, o dia.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

outubro

do coração do céu de outubro
o calor abraça a terra
as nuvens cantam juntas
e o sol diz: voltei!


e, quando faz calor no coração de outubro
o céu abraça o mar
os peixes sonham que o mar é o céu
e o sol diz : voltei

e o sol diz: voltei
voltei!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012



"O ceticismo excessivo é o correspondente intelectual ao fanatismo religioso."

Paiva Netto

terça-feira, 11 de setembro de 2012

aniversário

Parabéns! Se teu brilho cândido, a cada ano, continuar a expandir, te fará culminar em si, uma estrela.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

pré-poema qualquer


Era uma vez uma tarde qualquer, 
Como um começo de pobre poesia moderna qualquer. 
Iam as mesmas pesadas e cinzentas nuvens, 
Como sempre nos dias chuvosos de uma tarde qualquer.
Fugiam as infinitas nimbus de tristeza como Satanás expulso do paraíso.

Mas eu que não trazia nada n'alma
Procurei nos meus bolsos das calças um papel
E o sol que antes na minh'alma fervia 
Dava adeus e me abandonava.

Subitamente,
um risco negro cortou o céu em forma de candelabro 
Eram toutinegras andorinhas furiosas
Voando numa ordem cujos olhos meus não acompanhavam.

De tão bela dança  entrevi um balé singelo:
Primeiro vinham,
Depois voltavam,
E por fim subiam juntas 
Em direção ao sol que morria.

Cantavam uma canção de tão longe, 
Que meus ouvidos duvidavam o que meu pobre coração ouvia,
Os pequenos gritos negros de alegria  flagelavam o ar 
E por isso as nuvens fugiam.

E tudo isso eu via através do vidro de um ônibus esfumaçado qualquer,
Via eu mesmo, 
O que andava sozinho na calçada,
Aquele que pegava o papel e olhava pro céu, de alma vazia...









sexta-feira, 27 de julho de 2012

O toque das ave-marias


Talvez às 6:00 horas, às 12,
ou quem sabe às 18 horas de hoje
Os homens se reúnam em comunhão
Como é santo nos dias de domingo
Como é inocente os homens-meninos
no dia de Cosme e Damião

Um dia ouvi dizer que os céus murmuraram  anjos
e que na terra os operários é que murmurarão
na  ultima colheita
a ultima canção

Não em latim :

Pater noster, qui es in caelis
Fiat voluntas tua
Ave, María, grátia plena,
Sancta María, Mater Dei,
Amen!


Nem hebraico, nem um hino de pendão
Mas num amalgama encantado
do mesmo pano que reveste os sonhos [das tempestades de Shakespeare]
do mesmo tecido que tece os vitrais das manhãs [das catedrais]

Cantarão nesse dia quem sabe um canção sem nome ainda
Uma  oração sem esperança
Um ângelus sem luz

Eu que via com meus olhos
Já cedinho enquanto acompanhava o séquito
Que dos mesmos martelos que se preparavam para forjar estrelas:
Nasciam homens

E no momento da Anunciação
Vinham eles
Tão jovens e inocentes
como as crianças
pobres anjos barrocos

Então às 18 horas, triste e lentamente uma voz dizia:

"Quando as falanges dos teus dedos se redobrarem
Logo as aves, brancas ou não, dos céus descerão"

Então  aqueles mesmos homens, mulheres e meninos vestidos de anjos
Todos calados, reunidos num circulo concêntrico em forma de falange

Nas mesmas 6:00 horas em que o sol ferve
Nas 12 horas em que o velho sino range
Nas mesmas 18 horas em que marias cantam as Ave Marias
Cantarão a canção:

Senhor!
Meu Deus!
Meu Deus
Maria! maria, marias

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Filipéia


Ai de ti Filipéia!
em cada uma de tuas mil humildes catedrais
onde os anjos não planam mais,
e os sinos enferrujaram de tristeza
desafinando o som de tua beleza
em cada uma destas mil cidades que fundaram teu coração de pedra

Ai de ti Filipéia!
Pois hoje
Haverá entre teus mais de dois milhões de homens:
um milhão estão a margem
os outros dormem
e destes homens resta algum?

Levanta de teu sono profundo
Emerge da tua secular couraça poeirenta
Ouve teus cantores cantadores
Eles repetem.

Hoje tuas arvores inexoráveis 
Como colossais paredes de granito esverdeadas
Permanecem cravadas no teu pobre peito rachado

Dividido em mil partes de mil cismas empáfias
Do alto do teu céu negro azul escuro
Elas te fitam feito guardiãs

E cantam o canto uníssono de uma enorme muralha furiosa
Num coro reluzente de cor verde que teu negro coração de pedra nunca ouviu.



quinta-feira, 22 de março de 2012

Sobre Cuba, Marx , e a esquerda

 * O texto abaixo é uma resposta a este artigo


Se o socialismo somente já é um tema controverso, Cuba o torna mais controverso ainda, aliás nada simples seria sua analise. O proprio Marx numa entrevista disse ser impossivel uma revolução sem derramamento de sangue, o que nunca houve, e o que não justifica a crueldade. O socialismo de Marx jamais foi executado na sua forma ortodoxa. Se queremos ser justos, temos que falar em socialismos, ou talvez só exista na teoria, ainda. Ao meu ver foram tentativas, algumas delas cheia de paixão pela justiça à classe trabalhadora, outras apenas na aparencia. Atribuir a Cuba o sinonimo de uma Alemanha nacional-socialista é um absurdo erro de visão histórica, porquanto que se tratam de acontecimentos bastante diferenciados em suas essencias, ainda que sejam politicos. O que Cuba vai ser depois de Fidel Castro, é tão importante quanto dizer o que a esquerda será. A crise da esquerda é uma fase ou estará pra sempre ela esquecida, surgindo numa intermitência nas eras despoticas, como desespero dos povos? Porque a historia da esquerda não é uma invenção da História, é uma invenção de homens esmagados.

quinta-feira, 15 de março de 2012

caminhos cruzados

se ontem eu te visse
como hoje eu te avistasse
te dirias o que agora serias

passando por mim
ainda  não te via
caminhos cruzados

no onibus,  atados
segurando os ferros frios
de onde tu vinhas


o pisar dos meus passos
lembrava teus passos
que eu nunca sonhara
que eu não previa

levantam-se os braços

sobre a inercia da vida

freavam-se os sonhos
tolhiam-se as rosas

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Poema para uma atriz



Uma vez que viestes ao mundo
Trouxestes contigo uma
Imensidão de importância
Celeste.

Se imitas a vida,
Não é somente a vida
Que imitas

É essa cadencia infinita
Sob a aparência cansativa horas
Ponteiros cinzentos escondendo
A camada da vida.

Mas teu papel,
É bem aquele do artista
Sob o palco dos dias.

Que quando olhas – lembra
As nuvens cheias de sonhos
Daqueles que quando falas – agitas (as almas)

Num carrossel sem eixos,
Convicto de amor,
A forma da vida
O conteúdo da morte.

Tempestades de toda sorte
São esses seres
Sem luz, sem flor.

A quem somente o
teu coração de artista-celeste,
Pode iluminar. 

Lembras então aos novos atores
Que novos dias virão.