sexta-feira, 27 de julho de 2012
O toque das ave-marias
Talvez às 6:00 horas, às 12,
ou quem sabe às 18 horas de hoje
Os homens se reúnam em comunhão
Como é santo nos dias de domingo
Como é inocente os homens-meninos
no dia de Cosme e Damião
Um dia ouvi dizer que os céus murmuraram anjos
e que na terra os operários é que murmurarão
na ultima colheita
a ultima canção
Não em latim :
Pater noster, qui es in caelis
Fiat voluntas tua
Ave, María, grátia plena,
Sancta María, Mater Dei,
Amen!
Nem hebraico, nem um hino de pendão
Mas num amalgama encantado
do mesmo pano que reveste os sonhos [das tempestades de Shakespeare]
do mesmo tecido que tece os vitrais das manhãs [das catedrais]
Cantarão nesse dia quem sabe um canção sem nome ainda
Uma oração sem esperança
Um ângelus sem luz
Eu que via com meus olhos
Já cedinho enquanto acompanhava o séquito
Que dos mesmos martelos que se preparavam para forjar estrelas:
Nasciam homens
E no momento da Anunciação
Vinham eles
Tão jovens e inocentes
como as crianças
pobres anjos barrocos
Então às 18 horas, triste e lentamente uma voz dizia:
"Quando as falanges dos teus dedos se redobrarem
Logo as aves, brancas ou não, dos céus descerão"
Então aqueles mesmos homens, mulheres e meninos vestidos de anjos
Todos calados, reunidos num circulo concêntrico em forma de falange
Nas mesmas 6:00 horas em que o sol ferve
Nas 12 horas em que o velho sino range
Nas mesmas 18 horas em que marias cantam as Ave Marias
Cantarão a canção:
Senhor!
Meu Deus!
Meu Deus
Maria! maria, marias
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