quarta-feira, 28 de maio de 2014

o sofrimento sob o ponto de vista do culpado

Sei como é essa sensação. Quem nunca se sentiu assim pelo mal que nos fizeram? É muito difícil realmente. Nós fazemos o bem, e o que recebemos de volta é uma devolução amarga. Mas e a agonia do criminoso, que sabemos dela sob seu ponto de vista? Condenado por si mesmo. Sua pena é a culpa, que pesa e ao mesmo tempo queima. E depois a pena do banimento. Evita-se, exclui, esquece, afasta-se com medo de ser maltratado novamente por ele, perde-se a confiança.Compreendemos os defeitos dos nossos amigos, dos nossos filhos, parentes, mas com o condenado é melhor ter cuidado. Tudo isso com razão, tudo isso é pouco, afinal o crime foi terrível. 

O crime sofrido pela vítima traz consequências funestas pra ela. Mas as consequências para o criminoso são também terríveis. Esse criminoso que se arrepende rapidamente, que quer ser ouvido. Que aguarda a liberdade do perdão real, mais do que ouvir que foi desculpado. Do afeto, do abraço, do sorriso, de ser tratado como aqueles que não fizeram mal nenhum. Isso é um sonho pra ele, porque é muito difícil que aconteça. É o único consolo. Então ele pensa e indaga quanto é o tempo da pena, quanto precisa expiar pra pagar a divida. 

Estamos na maioria dos casos, dos dois lados: da vítima e do algoz. A vítima sofre muito, tem medo, não suporta a injustiça cometida e tudo isso com razão.  
O algoz não tem razão. Não tem nada. Tem o erro, a culpa justificada, o crime cometido sem volta e por fim, se estiver arrependido, a esperança do perdão, além da palavra. O voltar a ser como era antes. Mas ele sabe que não será como antes, jamais! Sabe que a confiança está perdida, que o seu valor diminuiu aos olhos do outro, que sua boa imagem criada, foi quebrada pra sempre! O que resta pra ele? A agonia. Está só, assim como a vítima pode estar. Mas ele não tem nada, a não ser a culpa pra carregar  e o vazio, a ausência do abraço sonhado. Não tem ninguém! 

Pode ser que aquele que sofreu do criminoso, não tenha raiva dele, já o tenha desculpado, mas mesmo assim ainda está triste com ele. E se seu crime é pequeno, maior sua agonia se não é perdoado. Mas é crime, não importa. Erro é erro.

O que se quer? A extinção da dor, tanto da vítima quanto do algoz. A justiça é cara para a vítima e o perdão caro pra o criminoso

Espera o criminoso que aqueles poucos que ele crê amá-lo o perdoem logo. Espera que venham falar com ele, porque é humilhante insistir esse perdão. Ai daquele que tendo cometido um crime, sendo condenado, por pior que seja o crime, não tenha ninguém para abraçá-lo no cadafalso ou na prisão. Porque aí se está só, e estar só por ter cometido um crime é o próprio inferno! Por isso o amor materno é sagrado nos céus e nas prisões.

Ouvir tudo isso faz pensar que o criminoso é que é a vítima, que tem direitos que não tem. Quer-se culpar a vítima de um crime que ela mesmo sofreu. É um absurdo. O crime foi feito. Não há desculpas. Foi terrível, assustador, inesperado, triste, estúpido e desnecessário.

Não somos de ferro pra suportar tudo isso. Nos esforçamos pra fazer o bem e recebemos a ingratidão. Não devemos estar com alguém que não nos ama, que nos faz mal. Devemos nos afastar. Evitá-los.